Aos 55 anos de idade, Gelsa Sandow, decidiu que era o momento de mudar de vida. Cabeleireira em um salão no centro de Porto Alegre, a jovem, como ela mesma se intitula, precisava ganhar mais dinheiro. "Eu praticamente trabalhava para pagar o aluguel e as contas iam acumulando", lembra. A solução para a urgência em obter uma renda maior veio através das páginas de um jornal. Sem saber, Gelsa estava começando a transformar sua história.

O anúncio do SEG sobre o curso Técnico em Enfermagem despertou seu interesse. O preço bom e a oportunidade de ampliar suas possibilidades profissionais balançaram a cabeleireira, porém a insegurança em relação a sua idade a freou. "Isso não é para mim, aos 55 anos não. Isso não é para mim", repetiu para si na época. Na semana seguinte, Gelsa viu novamente o anúncio e decidiu recortá-lo e colocá-lo em cima de sua mesa. "Aquele anúncio olhando para mim e eu olhando o anúncio por três dias" diz. Desta vez, ela resolveu ligar para a Escola e se informar sobre o curso, mas sempre torcendo para que não a atendessem. De primeira foi atendida e logo perguntou: "Jovens da minha idade tem chance?". O Consultor Comercial do SEG a contou que um senhor de 60 anos se formaria naquele ano. Surpresa com a afirmação dele, Gelsa acabou se matriculando em seguida. "Trouxe meu histórico escolar bem amarelado pelo tempo, datilografado, era uma relíquia", relata.

As aulas do curso Técnico em Enfermagem começaram e Gelsa rapidamente percebeu que era a pessoa mais velha da turma. Apesar de sua desconfiança inicial, a cabeleireira escolheu voltar para a sala de aula e contou com o auxílio dos parentes. "Minha família me apoiou bastante. E eu pensei: vamos arriscar', diz. Com saudosismo, ela se lembra das aulas, dos colegas e até mesmo das provas. 'Foi uma época muito feliz da minha vida, me diverti muito nessa escola e me puxei bastante para não pegar recuperação", recorda. Na primeira prova, após 30 anos longe dos cadernos, Gelsa conta que sua mão tremia. Antes nervosa com a possibilidade de não atingir bom desempenho na avaliação, a então estudante ficou deslumbrada com o resultado. "Quando o professor entregou, eu fiquei parada olhando para a prova". Ela havia enfrentado o primeiro obstáculo no sonho de mudar de vida e aquilo representou ainda mais esperança para a aluna de 55 anos.

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A escolha do curso veio a partir do gosto pelo contato com as pessoas. "Meu foco sempre foi as pessoas", diz. Hoje formada, a Técnica em Enfermagem trabalha em uma home care e também acompanha pacientes particulares. "Atendo muito geriatria, sou a cabeleireira das minhas pacientes", conta. Identificada com o cuidado de idosos, ela os incentiva na recuperação. "Muitos com a saúde já debilitada, mas nunca falta um sorriso, um incentivo, um vai dar tudo certo", relata. Com entusiasmo e dedicação, Gelsa terminou o curso Técnico em Enfermagem e admite que nunca ganhou tanto dinheiro como agora. "A gente não pode pensar só no dinheiro, existe um trabalho de humanização também", afirma. As mudanças proporcionadas pela qualificação a oportunizaram realizar sonhos antigos que antes estavam engavetados por conta das dívidas. Ano que vem ela completa 60 anos e já tem presente definido. "Vou me dar de presente uma viagem, vou pra Europa por uns 20 dias, fruto do meu trabalho", comemora com um sorriso no rosto.  

As contas atrasadas já são passado na vida de Gelsa. A Técnica em Enfermagem já anseia novos desafios na carreira. "Estou tentada a voltar para a Escola para fazer Instrumentação Cirúrgica, até porque agora sei que não tem idade", planeja. Além disso, ela pensa em abrir sua própria home care. "Pode ser meio audacioso isso, mas quem sabe? Vamos tentar", sonha. Aos 59 anos, Gelsa reflete sobre sua escolha pela formação técnica. "Foi a melhor coisa que eu fiz", garante. Com brilho nos olhos, ela deixa um recado para os sonhadores como ela. "Tudo tem seu tempo, talvez o tempo de vocês seja agora, o meu foi aos 55 anos", afirma.
 

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